A ARTE CRISTÃ PRIMITIVA
ESPIRITUALIDADE
A Idade Média divide-se em três períodos culturais: a economia natural da primitiva Idade Média, a cavalaria galante da Alta Idade Média e a cultura burguesa urbana da última parte do período.
A característica marcante da arte medieval do 1º período era o desejo de simplificação e estilização, sem profundidade e perspectivas especiais, além do uso arbitrário das proporções corporais.
Com o surgimento da economia monetária e consequentemente da burguesia, essa característica deixa de imperar.
O único elemento de importância que domina a Idade Média, antes e depois desta época, operando a sua modificação, é o aspecto de um mundo concebido metafisicamente. É a expressão de uma sociedade cristã e hierática na organização. Por toda essa época, a Igreja mantém seu poder como o único meio de salvação.
A arte, nessa época, não surgiu repentinamente e sim vem seguindo a tradição na representação que inspirou, séculos antes, o paganismo.
A espiritualidade desta arte, portanto, na qual os eruditos têm tentado encontrar tudo o que essencialmente pertence às concepções artística do último período medieval, é, na realidade, apenas a mesma indefinida espécie de espiritualismo que inspirou os últimos séculos do paganismo.
A primitiva arte cristã, durante os primeiros dois ou três séculos de existência, não passou de um simples desenvolvimento, ou até mesmo de uma variante da arte romana do período final. Tão grande é a semelhança entre as últimas obras pagãs e os primeiros trabalhos cristãos, que a decisiva mudança de estilos deve ter-se operado entre o clássico e o pós-clássico, e não entre a era pagã e a era cristã.
Na época de Constantino, a representação artística segue um padrão que já demonstra as características essenciais da arte primitiva da era cristã: cores chapadas e sem volume, frontalidade, formas lisas, preponderância para a hierarquia e solenidade. A sua indiferença pela vida orgânica da carne e do sangue, a falta de interesse pela característica, pelo individual e pelo gênero humano. Em resumo: há a mesma predisposição não clássica para representar o espiritual em vez do sensível que se encontra nas pinturas das catacumbas, nos mosaicos das Igrejas romanas e nos primeiros manuscritos cristãos.
A arte primitiva segue dois caminhos para representar a presença espiritual, o simbolismo como uma linguagem, a fala onde a arte interpreta e explica através de cenas bíblicas a sua doutrina, usando de distorções de tamanho natural e ajustado de proporções segundo a espiritualidade do objeto a ser retratado. Usa-se a perspectiva reversa.
Deus é importante, Ele está mais perto. Eu não sou, por isso fico menor, mesmo estando no primeiro plano da obra. Portanto, o tratamento dado à obra de arte não considera se, no primeiro plano, eu deveria estar maior e o cuidado com os primeiros não é essencial: por exemplo, um ramo pode representar um jardim.
Tem-se também a linha explicativa com representações em estilo épico evidenciando ações atraentes da vida dos santos e catequizando através da imagem.
A segunda linha de desenvolvimento abraçou um estilo explicativo ou épico, que visa evidenciar várias cenas, ações e incidentes atraentes para o espírito. Na realidade, os baixos relevos, as pinturas e os mosaicos da primitiva época cristã, ou são objetos de devoção, ou então históricos da bíblia e cenas de santos.
Nesta, todos os esforços do artista se dirigem a esclarecer e valorizar a ação.
O cristianismo toma para si maneiras de representar a fé usando ainda das técnicas e motivos da arte clássica greco-romana.
Por ter ligações com a doutrina hebraica e helenista, a nova fé cristã sintetizou representações figurativas de Cristo baseando mais no ensinamento doutrinário. Usa das figurações helenistas de formas antropomórficas e naturalistas para representar o divino.
Porém, opondo-se a isso, a tradição hebraica proibia a total representação de Deus.
A doutrina cristã não exclui nada daquilo que já foi criado pelo ser humano, quanto à sua cultura, mesmo porque não se crê que o homem pudesse ter criado tanta coisa sem que Deus o tivesse inspirado. A sabedoria, até então, existia independentemente da revelação cristã.
Para os hebreus, a representação de Deus por termos finitos era impossível. Contudo, se, para a fé cristã, Deus se fez homem e foi visto entre todos, ele pode ser retratado. Já não cabe dizer que a representação do divino é impossível (se não se pode representar a alma que é invisível, quanto mais Deus o criador dela, esse era o mote até então). Contudo, Cristo é o retrato humano de Deus e isso fez com que ele se tornasse representável.
O cristianismo, portanto, pondo-se como síntese e superação dessas duas doutrinas, desenvolveu também a antítese entre a representação icônica e a representação não-icônica, e a solução inicial consiste exatamente em recorrer a figurações indiretas, isto é, à figuração que signifique algo em si mesma.
Não se podia evidentemente admitir que, antes da revelação cristã, a humanidade tivesse vivido, e com tanta sabedoria, sem a orientação de Deus e na sua completa ignorância: tinha-o pois conhecido indiretamente, através de profunda inteligência da criação, que a arte clássica, não menos do que a “filosofia natural” e a sabedoria política e jurídica, revelava.
Quanto à representação não icônica hebraica, permanecia válida como principio, não se podendo aceitar que Deus, infinito, se manifestasse completamente sob formas finitas; mas encontrava um limite grave no fato de que Deus se revelara encarnando-se, tomando a forma humana.
Não se podia mais negar, portanto, que, uma vez assumido a figura humana, o Cristo, o próprio Deus, fosse “representável”.
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2 comentários:
o texto e otimo e bem claro
Sou professor da diretoria de ensino de Suzano, gostei muito deste espaço, o material que li está ótimo e de fácil, aproveitei o mesmo para meus alunos da rede municipal onde sou PEB I, para o ensino de arte com meus alunos da 4ª série.
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