Considerado um dos maiores artistas do século XX, Picasso, que nasceu em Málaga em 1881, simbolizava o típico artista moderno descartando uma carreira convencional, acadêmica e opta por uma vida boêmia no início do século XX, usando de seu dom natural e dando à sua arte a naturalidade que demonstra em suas obras.
Sua arte ganhou destaque desde o início, justamente numa época em que outros artistas também exploravam novas maneiras de representação da realidade e ele conseguiu isso com a obra Senhoritas de Avignon, dando início ao cubismo. Cèzane já havia iniciado distorções especiais em suas obras de natureza morta, para alcançar um maior número de informações sobre o objeto representado. A isso, juntam-se as impressões que causaram em Picasso as obras de esculturas ibéricas e máscaras africanas, em que mostravam formas de representar sintéticas e não-realistas, ainda não conhecidas na tradição européia. Na obra Senhoritas de Avignon, ultrapassa a maneira existente de pintar os objetos como são vistos e representa aquilo que deles se capta. Em 1907, com Les Demoiselles d’Avignon, Picasso colocará em crise toda a tradição figurativa, e a seguir, com o cubismo, abrir o novo curso na arte.
Em 1914, Picasso já é um artista completo: pintor, gráfico, ceramista, escultor com várias fases e linhas de pesquisas.
Ele dialoga com Velásquez, quando produz várias releituras da obra As Meninas. Suas referências históricas são claras, mesmo porque a obra de arte não tem tempo, ela é um objeto anacrônico que não passa jamais, o significado não é definido para sempre, ele pode mudar, pois atribui-se um valor atualizado às obras.
Naquela época, vivia-se na Europa uma situação de crise e a arte deveria ser politizada e ter uma função na sociedade de produzir o novo. Mas, como conseguí-lo estando presa à tradição do velho. Não se quer mais fazer representação e não se capta mais a realidade.O artista faz a realidade, ele produz a arte. Decompõe os objetos e reconstrói-os, não é mais a superfície refletida, mas onde ela é realizada. É o espaço que organiza a realidade. Essa arte é feita do cotidiano dos artistas e o artista é um trabalhador. Os objetos com os quais se convive são objetos artísticos que podem mudar de função.
Picasso não se filia a nenhum movimento artístico. Ele passa pela decomposição cubista, pelo naturalismo sereno; à violência de dilaceração de imagem, vai do belo ao horroroso.
Sua influência no mundo das artes é tão grande, que dirige a política das artes e o seu mercado, mesmo que individualmente.
Uma obra muda na perspectiva do tempo, assim como muda na perspectiva do espaço. Ela adquire um novo olhar conforme a época em que se vê.
Picasso trabalha junto com George Braque em busca de novas formas de expressão.Dessa nova linguagem, surgem os procedimentos de colagem. É o quadro como objeto, onde utiliza papel de embalagem; jornais, no seu fazer artístico, fazendo surgir significados diferentes dos de sua própria natureza. Não é mais jornal ou papel de cigarro, é uma obra de arte.
Mas, antes dessa fase cubista, Picasso viveu no centro artístico da capital catalã anos de boêmia e conviveu com artistas europeus simbolistas. Quando chega à Paris, vai viver em Montmartre, onde desenvolve sua obra a que ele chama de fase azul e rosa, onde o desenho, mostrando grande técnica, é feito sob fendas monocromáticos nessas cores, com termos alegóricos das angústias da existência humana.
Picasso vive no século das duas grandes guerras e durante a Guerra Civil Espanhola. Em suas obras usa desses temas e demonstra o grande horror quando ela se traduz na obra Guernica, exposta no Pavilhão Espanhol da Exposição Universal de Paris.
Depois da II Guerra Mundial, vai morar no sul da França e continua produzindo com muita energia. Esculpe e produz obras gráficas de grande importância na arte moderna. Casa-se várias vezes e tem muitos filhos. Picasso utiliza todos os recursos que teve em suas mãos, tendo uma grande carreira de artista pleno e livre
Em alguns quadros da fase rosa, Picasso já havia demonstrado seu interesse por formas sólidas dos cubos, na solidez de suas pinceladas. Não quer representar a realidade que vê nas esculturas ibéricas e nas máscaras africanas, por isso em seus estudos percebe-se grande mudança na representação, culminando no ano de 1906 com a criação de Les Demoiselles d’Avignon, concebido, inicialmente, de forma mais realista com ilusão de figuras masculinas, mas que são excluídas.
Em sua composição, vemos à esquerda uma sucessão de figuras retas em ritmo fortemente retesado e à direita a figura de duas mulheres com bustos deformados, como máscaras horríveis, demonstrando o interesse de Picasso pelas esculturas negras, africanas. Aqui não interessa o motivo exótico ou selvagem, mas sim a estrutura plástica que exclui a diferença entre forma e espaço.Os traços oblíquos dos rostos pertencem tanto à forma como ao espaço e os da esquerda nada mudaram, porque Picasso não tinha a intenção de copiar máscaras africanas ou imitar a arte negra, em que tudo na antiga tradição é dualista, como matéria/espírito, particular/universal, coisas e espaços.
A intenção era mostrar a durabilidade de uma civilidade extrema em oposição à uma barbárie extrema, sendo que as duas são válidas no plano estético e histórico e, assim, esse elemento de barbárie surge como um elemento de ruptura de um limite histórico, é a solução para as condições extremas. Portanto Les Demoiselles d’Avignon surge como um gesto de revolta que abre caminho para o cubismo.
Nesta obra, percebe-se que nas três mulheres à esquerda existe a influência de Cézanne, mesmo que simplificado, os rostos e narizes frontalmente, ainda que de perfil. As duas da direita e a natureza-morta são manifestações do cubismo, cujas cabeças são máscaras africanas e os corpos foram facetados em planos justapostos, formando uma trama unitária com espaço que separa as formas das mulheres da figura central.
Picasso morreu ainda produzindo em plena atividade, no ano de 1973.
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