BOSSA NOVA

A expressão - que designa genericamente novo jeito de fazer alguma coisa - já era utilizada nos meios de músicos profissionais desde a década de 1940. No fim da década de 1950, nos bairros da Zona sul do Rio de Janeiro, grupos de rapazes e moças, que em maioria tocavam violão, começaram a reunir-se com assiduidade em apartamentos ou casas, promovendo reuniões em que cantavam e tocavam músicas de determinadores compositores e de si próprios. Dois deles, Carlos Lira e Roberto Menescal, fundaram uma academia de violão, que ajudava muito a divulgação das composições do grupo, geralmente de caráter intimista, com acordes semelhantes aos de certos músicos de jazz, sobretudo do guitarrista Barney Kessel, e dos arranjos do trompetista Shorty Rogers, ambos norte-americanos.
Em julho de 1958, o então violonista João Gilberto que, atuando alguns meses antes como músico no LP de Elisete Cardoso, Canção do amor demais (marca Festa), empregara uma nova forma de acompanhamento rítmico, gravou seu primeiro disco simples, na Odeon, com as músicas Chega de saudade (Tom Jobim e Vinícius de Morais) e Bim-bom (João Gilberto). O resultado sonoro da combinação da voz de João Gilberto com seu acompanhamento de violão passou, a partir dessa gravação, a ser identificado como a forma bossa nova e foi absorvido por aqueles violonistas, e cantores amadores, que continuavam a se reunir, já, porém, em clubes e centros acadêmicos. Após o sucesso do primeiro disco de João Gilberto e a gravação de seu primeiro LP Chega de saudade (Odeon) em janeiro e fevereiro de 1959, juntaram-se os elementos amadores do primeiro grupo (Carlos lira, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Nara Leão, os irmãos Castro Neves, Normando, Chico Feitosa, Luis Eça e outros) com os profissionais (João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Morais, Sílvia Teles, Alaíde Costa, Baden Powell e outros), apresentando-se em novos shows, denominados Festival de Samba Moderno ou Samba-Session ou Comando da Operação Bossa Nova, em auditórios de universidades e emissoras de rádio.
A essa altura, a expressão bossa nova, utilizada inclusive na da composição Desafinado (Tom Jobim e Newton Mendonça), gravada por João Gilberto em seu segundo disco simples (novembro de 1958), já era conhecida como a designação para a música e os integrantes desses shows. A partir daí, novos discos foram sendo editados, com a adesão de novos elementos, que se identificavam ou não com a bossa nova, ampliando consideravelmente o grupo e o sucesso da expressão, tornando- os conhecidos nacionalmente. Em novembro de 1962, realizou- se no Carnegie Hall, de New York, EUA, o primeiro Festival de Bossa Nova, motivando grande interesse de músicos de jazz, pelas composições e interpretações de vários brasileiros, que passariam daí em diante a apresentar- se ou mesmo residir no exterior. A bossa nova tornou-se então conhecida mundialmente como música popular brasileira, permitindo a divulgação do ritmo, das composições e dos artistas brasileiros. Em vários países editaram-se discos brasileiros, gravaram- se outros, compuseram- se canções, inclusive com artistas locais.
A partir dessa época, a inflação de bossa nova gerou certo desgaste da expressão e da música, que foi perdendo suas características originais: o intimismo da interpretação, a harmonia repleta de acordes alterados, saltos melódicos inesperados com freqüentes modulações, a economia de instrumentos e da duração de cada música, a letra lírica e coloquial, e, acima de tudo, o leve ritmo quaternário com deslocamentos independentes da melodia, que era o dado mais marcante. Em 1990, o gênero recebeu novo impulso, principalmente a partir do lançamento do livro Chega de saudade do jornalista Rui Castro. Sete anos depois, o livro foi relançado em edição de luxo, como brinde, acompanhado por CD duplo com seleção de músicas feita também por Rui Castro. Em janeiro de 1998 foram lançados pelo selo Albatroz (distribuição Paradoxx) cinco CDs de bossa nova: a trilogia O amor, O sorriso e A flor, com cantores como Peri Ribeiro, Tito Madi, Wanda Sá, entre outros; Amigo da bossa nova, com o cantor Silvio César, A bossa brasileira, com o conjunto Os Cariocas.

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