Essa definição se inicia com a caracterização de seus personagens, que são completamente bons ou intensamente maus, sem meio termo ou qualquer profundidade psicológica.
O melodrama trabalha com quatro tipos básicos de personagens. O vilão, com uma maldade intensa e uma série de vícios, personagem cruel e sanguinário. A heroína, sempre como uma figura bela. O herói, jovem e destemido, que ama a mocinha, cabe a ele o papel de salvá-la e dar ao vilão a vingança. O quarto personagem é o “niais”, o tolo, que invadia os palcos nos momentos de maior dramaticidade, fazendo com que a platéia risse em meio às lágrimas.
Os exageros desse gênero não se resumem apenas aos personagens,mas sim a todos os elementos da peça, com duelos, combates, crimes, incêndios, reviravoltas, revelações e descobertas impressionantes. O melodrama passa por caminhos tortuosos, tornando necessário apresentar para a platéia uma enorme quantidade de informações através de monólogos e confidencias, leitura de alguma carta esclarecedora.
Os cenários também acompanhavam esse exagero, as peças passavam em locais cercados de mistérios como bosques, florestas, castelos em ruínas, grutas. O drama invadia a construção de pontes, escadarias, rochas, tempestades em alto mar, inundações.
Os efeitos cênicos também acentuavam a intriga, com balés, cenas de duelos e batalhas.
Gênero teatral conhecido como melodrama tem origem associada à ópera, com início na Itália e depois França.
Charles Guilbert Pexerecourt, escritor francês, formou as bases do melodrama.
Romântico, o melodrama absorve modificações de contexto histórico-social, que representam o gosto da platéia. Dos senhores feudais passa para os burgueses, os cenários rurais para urbanos, à medida que o século passa. Procura estar em sintonia com o grande público, e assegura o sucesso através da recepção positiva. Busca sugestões para novas realizações e pretexto para a ironia, paródia em relação a situações ultrapassadas.
Nelson Rodrigues contribui para a renovação do cenário brasileiro e, é tornado como exemplo para a permanência do melodrama. Incorpora elementos psíquicos a ambientes da classe média. Um exemplo é Vestido de Noiva, o drama se mostra na motivação passional, com golpes e revelações, promessas, amores secretos, num cenário impactante com caixões, defuntos, círios acesos na escuridão, escadarias, com cenas alegres e patéticas que cultiva o exagero e o paradoxo com naturalidade.
A estrutura do melodrama é simples, estabelece contrastes no nível horizontal e vertical. No nível horizontal opõe personagens de valores opostos, seus vícios e virtudes. Já no nível vertical alterna momentos de extrema desolação e desespero, com serenidade e euforia, isto com grande velocidade.
Se sua estrutura é básica, o mesmo não acontece com a organização da peça, onde não há fronteiras para a criatividade. Emoções fortes servem como recursos para envolver a platéia, no lugar de incentivar uma postura analítica, como fariam estéticas dramáticas diferentes (drama da morte de Jesus – Igreja). No melodrama o traço principal é a surpresa, e colocar mais um episódio depende somente do seu criador e não de musas ou histórias.
O melodrama prenuncia a arte que se declara como artifício, que tem por objetivo produzir determinadas reações nas pessoas (a quem se deseja agradar). O autor pode decidir adoçar o tom (ameniza-lo) de uma história dolorosa, ou introduzir elementos risíveis. Os critérios de qualificação estética dependem do processo, e passa para segundo plano a motivação interna a verossimilhança externa e aspectos tradicionais. O autor pode abdicar da seqüência linear histórica e da lógica tradicional. Ele mesmo seleciona as partes e dispõe para o público que a contempla as interprete em conjunto ou não. Portanto o que permanece no melodrama é o caráter explicitamente arbitrário.
Encontram-se dois núcleos principais nas matrizes temáticas do melodrama: a justiça e a realização amorosa. Nelas a impossibilidade para o êxito é causada pela ação de personagens mal-intencionadas. Segundo Jean-Marie Thomasseau o melodrama durante o século XIX pode ser divido em três fases, a primeira, que ocorre entre 1800 e 1823, é o chamado “melodrama clássico”; a segunda fase, que ocorre entre 1823 e 1848, é o “melodrama romântico”; a terceira fase é a do “melodrama diversificado” entre os anos 1848 e 1914 (início da primeira Guerra Mundial). Durante essas fases o mesmo assunto permanece, vítima e opressor lutam até que a justiça prevaleça.
Os maus agem com maior ímpeto, eles protagonizam a perseguição, tomam a iniciativa, seus objetivos é a satisfação dos próprios desejos. Já aos bons cabe a guarda, o esforço para estabelecer valores positivos, colocam os interesses coletivos sobre os particulares.
No melodrama, em geral, o par de namorados ignora as dificuldades, o mesmo não acontece com seus pais ou superiores, que acreditam nas convenções sobre poder do afeto. A idealização da pessoa amada e a certeza de que ela é a única que pode trazer a felicidade até o último dia da personagem explica o esforço pela aproximação, que somente o casamento pode legitimar. Este amor cria uma associação entre o casamento indissolúvel e a felicidade, de modo que o matrimonio dos bons se confunde com o padrão da ventura máxima.
O drama histórico e o melodrama possuem concepção artística parecida, onde além da atração por enredos comoventes e intricados, investem na elaboração da forma. O drama histórico - que teve seu apogeu na primeira metade do século XIX - do romantismo mostra que mais importante do que o fato é como apresentá-lo.
A reflexividade, conceito criado por Anthony Giddens, diz que “o presente não se concretiza sobre sobre a idéia da intangibilidade do passado.” (Huppes, I.2000.p.46). O drama histórico pode ser associado com a reflexividade, onde cada ação recolhe conhecimento sobre o passado, ultrapassando-o.
Para aproximar o herói do espectador, mostra os defeitos, vícios, atitudes de gente comum, e isso retira sua aura. Assim o drama se sintoniza com a modernidade. Apresentam-se mais e mais as fragilidades do herói, quase a ponto de tirá-lo do tema. É o que o drama busca, mostrar os heróis numa luta com suas dificuldades mais íntimas.
As questões de direito e as tramas amorosas são as duas partes principais do drama romântico, isso pode ser transferido para o drama histórico. As preocupações dos heróis são frequentemente as afeições e os deveres de justiça, sendo que as preocupações amorosas ocupam segundo plano. Esses heróis defendem o direito e são bons candidatos à boa sorte afetiva, pelo casamento com a protagonista feminina. O herói não quer apenas a felicidade pessoal, mas antes de tudo luta pelo direito.
Quando o melodrama segue o estilo francês, as personagens tradicionais são constantes. Há um ancião que é uma vítima inocente, este passou por desgraças, retiraram seus bens e dignidade e agora espera pelo alívio da morte. Um descendente do pobre ancião (freqüentemente uma filha) entra na trama, além de sofrer privações ela corre perigo, pois despertou a inveja na personagem malvada (a mesma está ligada com o infortúnio do ancião). A figura do vilão, um traidor sem escrúpulos, hipócrita e ambicioso, deseja a donzela inocente. A moça, repele a idéia, pois ama outro. O herói, nesse caso procura desmascarar e combater o traidor, no final ele é recompensado, o que não significa um final feliz., pois o efeito da desgraça abala mais, com um choque cruel e duradouro.
Peter Brooks, estudando o melodrama do romantismo percebe o forte papel que a virtude desempenha, seja no presente ou passado, isso quer dizer que não importa quando a injustiça ocorreu, mas deve-se reparar os crimes cometidos. Quando a reparação desse crime é impossível, torna-se inexistente a chance de prosseguir. O mundo acaba e a harmonia original – quando a virtude prevalecera – aquela que antecede o crime cometido, não pode ser restabelecida. Em Fernando ou o Cinto Acusador, peça de Martins Pena, Sofia se casa com Fernando (o vilão), o herói D’Haville (morto após um combate com Fernando) surge como uma espécie de mensageiro, vinculando o passado com o anuncio de um nova era. Como ele frustrou o desempenho do papel como herói o desfecho da história é o fim de Sofia e seu pai. O fracasso do herói antecipa esses fatos.
Já a peça A Última Assembléia dos Condes-Livres de Luís Antônio Burgain, que também segue a matriz francesa, termina em felicidade completa, nesse caso, mostra-se a relação positiva entre presente e passado, o tempo teve a tarefa de revisar o passado e desencadear em uma situação favorável.
O drama romântico procede de duas maneiras, em primeiro existe o pólo positivo e negativo da ação; em segundo associa a virtude entre o passado e um tipo de futuro que o herói irá (ou tentará) conquistar.
Semelhante ao coro da tragédia grega, apartes, monólogos e confidências favorecem para a compreensão da peça, representam uma alternativa de comunicação, introduzem um intervalo estrutural oportuno, além de serem uma espécie de pausa lírica, que serve para vários propósitos, tais como: mudanças de cena, suspense, etc. Às vezes, com os escassos recursos que a época dispunha, não haveria como mostrá-los em cena (batalhas, rebeliões, etc), ou sua interpretação prolongaria por demais a peça.
No drama de Gonçalves Dias, Leonor de Mendonça, percebe-se a habilidade de envolver a platéia, ao mesmo tempo em que conquista a adesão para o partido da Duquesa e prepara a desgraça impendente. Nessa peça o público só é capaz de perceber o afeto de Leonor pelo pajem quando Leonor fica sozinha e demonstra que tem dificuldade de tirá-lo da sua mente:”Não gosto de ouvir falar nele, e não posso pensar em outra coisa. Por quê?” (Huppes, I.2000.p.84)
O público jamais saberia desse afeto, não fosse o recurso do monólogo.
A figura do bobo acumula duas funções dentro do melodrama, a de movimentar o enredo e animar o discurso. Ele costuma se vincular com o herói. O falar tosco, os modos atrapalhados, faz dele um aliado simpático.
Segundo Victor Hugo, o melodrama é uma mistura de dois pólos opostos, o heroísmo e a vilania, o tom grave e o ridículo, o grotesco e o elevado. As emoções são exacerbadas e devem se manter assim, para prender a atenção da platéia.
O bobo tem dois papéis que se confundem durante a peça, um é o de introduzir situações cômicas, atenuando a tensão, e atenuando o tom da história, o outro é o de aprofundar e suspender a ilusão dramática. O bobo dá um toque de realismo, o que aumenta o nível de verdade da história, mostrando que o mundo não é apenas suspiros, aflições, injustiças.
No drama Leonor de Mendonça quem incorpora o papel do bobo é Paula, quando usa a linguagem exagerada, capaz de provocar risos.
O espetáculo é a ferramenta mais importante do melodrama. Segundo Victor Hugo a tragédia apela ao coração, a comédia à mente, e o melodrama aos olhos.
O importante no melodrama são as situações, encenações, o talento dos autores, afastando-se do texto (que até então reinava quase totalmente). Afasta a linguagem escrita tradicional e aproxima a linguagem cênica (ação e imagens). Com a peça tornou-se mais expressiva. Na sua origem, o melodrama mesclava falas e cantos, agora, mesmo afastado de suas fontes antigas, continua utilizando o recurso das sonoridades, às vezes introduz passagens em que há canções, música e dança.
Como é preocupado com “os olhos” do espectador, fez crescer a importância do mis-en-scéne, os adereços, a troca de ambientes, irrupções violentas, o movimento intenso, ganham grande destaque.
O público mudou, o perfil dele é mais rude, procura o teatro para descansar, se divertir. O melodrama romântico se distancia do teatro clássico, que confiava apenas no texto. Descobertas recentes cooperam para que essa magia aconteça. Trocas de cenário, eram difíceis no passado. O teatro cresceu em complexidade, mobiliza recursos além da fala para prender a atenção da platéia.
No melodrama os personagens se encontram em duas ordens distintas o bem e o mal, não há nuances. O conflito é claro para o espectador, tanto o vilão como o herói anunciam sua identidade (os maus sabem quem são os maus) no melodrama quem escolhe ser mau sabe porque o está fazendo, não é iludido. As personagens são construídas de forma esquemática, o foco principal é a ação, a luta entre o bem e o mal. Os bons confiam que a justiça será feita, resgatam na platéia sentimentos positivos como lealdade, amor, etc. São conscientes que seus ideais são superiores e os agarram com toda a força.
Já na tragédia não há somente a luta entre o bem e o mal. O erro que foi cometido deve ser reparado, não importa como. O confronto gira em torno da negatividade. Tudo o que se faz é para retardar a punição, as personagens convivem com a dúvida e a culpa, esperando que aconteça alguma catástrofe.
A separação entre o bem e o mal faz com que quem escolha o seu caminho esteja bem certo disto, no melodrama há objetivos a alcançar no lugar de dilemas de consciência. A peça gira em torno da perseguição dos maus e a defesa dos bons. Percebe-se vinculo do melodrama com a sociedade que é produto, virtudes burguesas e o comportamento empreendedor ocupa a cena, seja focalizando o bem ou o mal.
Apesar das diferenças melodrama e tragédia convivem juntos no teatro do século XIX, fazem sucesso com o mesmo público.
O romantismo dramático deu entrada no Brasil com a peça Antônio José ou o Poeta e a Inquisição, de Gonçalves de Magalhães. Essa peça apresenta uma ambigüidade, pois quer manter os valores consagrados ao mesmo tempo em que quer ser drama à nova moda. Ao analisar a peça percebe-se uma leve queda para a tragédia. Gonçalves de Magalhães fala sobre isso no prólogo:
Eu não sigo nem o rigor dos clássicos, nem o desalinho dos segundos (os românticos); não vendo verdade absoluta em nenhum dos sistemas, faço as devidas concessões a ambos; ou antes, faço o que entendo, e o que posso. (Idem.p.124)
Os dois gêneros (tragédia e melodrama) causam efeito parecido na platéia. O melodrama, segue a linha de terror e piedade, nesses casos a platéia tem que se sentir envolvida pela realidade da cena que assiste. Acompanha a trajetória dos personagens, sentindo a paixão e repugnando as atitudes da personagem malvada. A tragédia tem personagens mais complexas, história com poucos elementos. Deixa o bem e o mal na mesma personagem.
Diferente do efeito que causa no espectador (que é similar), a organização da peça é diversa. Trabalha sobre bases políticas, os rumos que os homens escolhem traz conseqüências para o coletivo, a catástrofe abala não somente os envolvidos, tem caráter geral.
O melodrama focaliza o indivíduo e suas dificuldades, o bem e o mal têm forças equilibradas, sendo assim, momentaneamente o mal vence o bem. A distinção dos objetivos aparece nos valores de certa sociedade. O herói se empenha em fazer o bem e beneficia a ele e aos que estão próximos.
No Brasil a tragédia e o melodrama chega no século XIX ao mesmo tempo. Gonçalves Magalhães, apesar de empenhado em cooperar com a atualização das peças nacionais, contribuiu com duas tragédias: Antônio José ou o Poeta e a Inquisição e Olgiato. A inovação foi o toque melodramático que amenizava o rigor clássico. Ambas as peças investiam na trama amorosa e na composição de cenários.
Martins Pena, Luís Antônio Burgain, Gonçalves Dias, Francisco Adolfo de Varnhagen, parecem mais sensíveis às novidades. Apresentam a tragédia com elementos grotescos, trabalham enredos (introduzindo elementos inesperados), contribuem para alimentar o gosto melodramático.
Com o passar do século o estilo se afasta da matriz, carrega um tom naturalista, volta-se para o surrealismo, critica a política, inventa recursos formais, cria uma dimensão psicológica.
Durante o século XX os campos dramáticos vão para além do teatro, se expandem para, principalmente, a televisão e o cinema, onde o melodrama encontra um espaço novo, diferente.
A arte do século XX valoriza o trabalho de organização de materiais, acrescenta um prestígio para a dimensão formal, no lugar de relevar a mensagem de forma tradicional. O melodrama, por ser um gênero que trabalha cenas e figuras, encontra seu espaço nessa nova realidade.
A permanência do gênero melodramático se deve pela ligação que tem com a modernidade, esse estilo absorve mudanças, dispensa o saber prévio, limita o espaço das palavras, em função da sonoridade e dos apelos visuais.
As características do melodrama, como a flexibilidade e a absorção pelo novo, fazem com que ele seja capaz de irromper os meios de comunicação contemporâneos, e assim se acomodar, entre outras formas de entretenimento.E é para essa direção que ele está migrando, sempre em busca do público.
Nessa nova situação recupera traços antigos, do drama romântico, abre uma fase emocional, com exagero e opulência da cena.
É fácil aproximar melodrama e cinema, o modo como é montado, a naturalidade como a ação pode ser mostrada no cinema, a agilidade para mudar de cenas, enriquecer ambientes, etc, faz com que o drama se adapte com esse novo meio, fazendo parecer tacanhos os mais engenhosos melodramas. O cinema pode reunir signos provenientes de diversas fontes, incorpora-os num ambiente plástico (som, cor, movimento), trabalha alusões diversas, encaixando-os no enredo.
Os noticiários de TV também podem ser inseridos no conjunto das formas lúdicas do melodrama. A maneira como a notícia é apresentada, de formal teatral, mesmo sem ser esta a intenção, estabelece uma relação com o melodrama. O drama romântico propiciava entretenimento para todas as camadas de público, a teatralidade presente nos telejornais afinam com essa tarefa de produzir entretenimento, inseridos na espetacularização da vida. Começando pela escolha dos temas, as coberturas aproveitam a forma melodramática. Voltam-se para notícias impactantes como crimes, acidentes, catástrofes, etc.
Já as semelhanças entre telenovela e melodrama são mais explícitas do que nos telejornais, pois estes compartilham dos mesmos objetivos dramáticos, técnicas narrativas, histórias com assuntos sentimentais.
Espaços comerciais e programação convivem juntos no ambiente televisivo, deixando uma sucessão sem lógica, essa organização no entanto não parece atrapalhar as telenovelas, que na verdade beneficiam-se com a proximidade da propaganda, e a utiliza como recurso de corte, salta com naturalidade de uma cena a outra, até mesmo de uma época a outra, e o espectador não acha isso abrupto no trânsito entre a telenovela e os espaços comerciais. A televisão ignora barreiras como tempo e espaço, temas ou ideologias, entre um corte e outro tudo é possível.
A expansão da media no século XX renova o espaço do estilo melodramático, ele retorna em produtos culturais dos meios de comunicação de massa, e se mostra totalmente sintonizado com a sociedade moderna.Revela, novamente, sua eficiência em atrair a camada emergente.
A resistência pela forma melodramática é uma contradição antiga, apesar do gênero possuir popularidade, é alvo de depreciação. Segundo Jean-Marie Thomasseau, desde sua origem, o melodrama convive com essa situação, onde o público geral o aprecia, porém críticos e historiadores tem uma postura superficial, quando não o depreciam.
Trabalhando o embate de afeto, jogando com o suspense, mobilizando sentimentos de culpa e pavor, caprichando na parte estética, na dimensão plástica, com uma estrutura fragmentada, o melodrama conquistou e comoveu ao longo dos séculos milhares de platéias. Suas peças testemunham a cultura de uma época, e assim se estabelece no teatro no início do terceiro milênio.
Apesar da incrível capacidade do melodrama de se adaptar a novas épocas, e se manter vivo até os dias de hoje, os críticos sempre zombaram desse estilo.
No século XIX, os críticos rejeitaram o gênero, zombaram dos espectadores que gostavam do gênero chamando-os de incultos e ignorantes, assim como aos autores de peças desse estilo.
Essa visão dos críticos não mudou, a crítica durante o século XX continua negativa.
O melodrama é atacado como otimismo imobilizante e conformismo paralizador. Personagens bons ou maus, a certeza do triunfo da verdade e do bem, a falta da verossimilhança e profundidade da peça são os principais alvos da crítica, além da idéia marxista apresentada logo depois da Revolução Francesa, onde os críticos diziam que era uma “escola de desobediência” que acostumava o público ao pensamento de castigo de tiranos, com suas cenas de “reis destronados, príncipes expulsos, revoltosos, mulheres adúlteras e jovens seduzidas” (Noites circenses, p.211).
Querendo reforçar as críticas ao melodrama , muito se perdeu com a falta de atenção aos aspectos das peças e sua dinâmica com a platéia.
A construção dos personagens merece uma atenção especial, os autores destacam a extrema superficialidade como fonte de contradições. O herói, que encarna coragem, bondade, ousadia, contrapõe-se com o vilão covarde, mau e medroso. Mas no seu papel em por fim a injustiça e perseguição do vilão a mocinha, chega a ser cruel na sua vingança, não existe lugar para o perdão. Ele emociona a platéia com os signos emitidos, se afirma como uma homem desafiador da ordem vingente para agir vingativamente e e violentamente, segunda suas próprias leis.
Quando falamos dos “niais”, vemos que esses personagens foram objetos de pouca reflexão. Eles que invadem as cenas em momentos dramáticos com comentários triviais e até mesmo grotescos, confundia a platéia em meio às lágrimas e risos. Esses risos rebaixavam a virtude do herói e a maldade dos vilões.
“Aqui poderíamos pensar não apenas nos escritores dos melodramas, mas numa platéia atenta aos enredos mais absurdos, em que qualquer intenção moralizadora acabava fadada ao fracasso. O bem e o mal, claramente divididos entre os personagens (com exceção dos “niais”), misturavam-se aqui, entre lágrimas e os risos dos espectadores”. (Noites Circenses, p. 213)
HUPPES, Ivete. Melodrama – O Gênero e sua Permanência. Ateliê Editorial, SP 2000
DUARTE, Regina Horta. Noites Circenses. Editora da UNICAMP, Campinas, 1995
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