AUGUSTE RODIN

Apesar de Rodin nunca ter sido aluno da Escola de Belas Artes de Paris, não o deixou à margem da realização artística de sua época.
Fez trabalhos extraordinários, revelando com maestria as formas, volumes, curvas do corpo humano.
Foi no ano de 1887 que iniciou sua carreira, expondo em Bruxelas e depois Paris, com a obra a Idade do Bronze, com que causou grande escândalo, pois diziam que a havia modelado em cima do corpo de seu modelo.
Era de inteligência extraordinária, aprendeu com um tio a desenhar de memória, o que também era excepcional.
Suas obras causaram, muitas vezes, estranheza, como a figura de Balzac, que ao ser apresentada no salão gerou repulsa. Diziam tratar-se de um saco de carvão ou pingüim. Foi recusada.
Na realidade, esta obra estava à frente de seu tempo para ser entendida.
Ao contrário do que outros realizavam, Rodin suprimia detalhes e ia contra os princípios acadêmicos. Buscava o essencial, muitas vezes mutilando os corpos.
Tinha domínio total de seus ateliês, entendia desde a concepção da obra sendo modelada, até a fundição do bronze ou a escultura em mármore.
Em uma viagem à Itália, passa por grandes catedrais e se apaixona pelas obras de Michelangelo. Assim como aquele, Rodin se interessa pelo corpo humano.
No processo de criação, o artista cria um elo simbólico entre ele mesmo e a matéria, como uma proporção do seu próprio ser.
As obras de Rodin foram feitas para que o espectador possa andar em volta, olhá-la de cima para baixo, nas diagonais, quase que as tocando. É uma arte de grande naturalismo, em que ele procura descrever as energias físicas, emocionais e biológicas do ser humano dentro de sua obra.
Em seu ateliê, havia modelos sempre despidos em posições inusitadas, em que Rodin experimentava e analisava a composição, posturas e superfícies dos corpos para o desenvolvimento de suas obras.Vagava entre posições e várias atitudes costumeiras e cotidianas, em poses ora relaxadas, ora crispadas em grande tensão. Isso fez com que tomasse conhecimento do corpo nu e pudesse expressar seu pensamento, sentir todas as partes do corpo humano; fossem elas músculos, tendões retesados ou rugas.
Nos primeiros esboços para a Porta do Inferno, Rodin pensa em incluir a figura de Dante. Propõe intitular a obra de “O Poeta”, no ano de 1889, para a exposição Monet-Rodin na Galeria George Petit.
O nome escolhido para a figura foi “O Pensador”. Ele mesmo não tem a majestade e a calma indiferença que há na obra inspirada de Michelangelo. Não acode ou repousa, mas sofre martírio por sua própria visão em seu íntimo pensamento.
Rodin mudou a intenção de realizar a obra, indo de encontro com a dignidade de Dante, em fazê-lo na frente da Porta, como um vetusto, sentado sobre a rocha, absorto em sua meditação. Ele se orienta, como ele mesmo diz a Michel Adam: “vejo um outro pensador, um homem nu, agachado sobre uma rocha com gesto de desespero”.
Com as mãos fechadas aos dentes, ele sonha. O pensamento fecundo se elabora lentamente dentro de seu cérebro. Ele não é absolutamente um sonhador, ele é um criador.
O autor já havia ensaiado um motivo para a figura assentada junto a Ugolino, que ele tinha realizado em outros tempos na Bélgica e que não tinha conservado o torso.
O Pensador remete a lembranças de obras de outros artistas, que o próprio Rodin admirava. Se não reconhece esta lembrança tão distante do Torso de Belvedere, ele deve muito ao efeito de Julian de Médicis sentado e meditando, realizado por Michelangelo, que se encontra na sacristia de São Lourenço, em Florença. É o mesmo desenho que é atribuído a Michelangelo e reproduzido na Gazeta de Belas Artes em 1876. Mesmo que tenha um pouco do outro Ugolino de Carpeaux, não apresenta um braço esquerdo calmo, como é O Pensador, com o braço apoiado sob o joelho direito.
A composição é em cruz, de concentração da figura sob ela mesma curvada, de espádua apertada e tem na sua origem um intenso simbolismo.
O Pensador apresentado foi o da terceira maquete, modelado da Porta. É o esboço em terra que está no museu Rodin. Conforme o modelo de Michelangelo, a testa do personagem tem um efeito nobre, elevado, o mesmo efeito através do braço esquerdo apoiado sobre o joelho esquerdo; a figura de Rodin não apresenta, pois, a construção característica já vista dentro da maquete. A etapa seguinte é constituída pelas fotografias do modelo em terra na frente da armação da Porta. A obra é conhecida como verdadeiro ‘ronde-bosse’, isto é, uma figura de atitude completamente modelada para que integre ao tímpano da Porta fazendo do espontâneo, portanto, a forma definitiva.
O primeiro Grande Pensador aparece na exposição universal de Saint Louis (Estados Unidos), em 1904, e surpreendeu o comprador local. Está hoje conservado na Universidade de Louisville. Entretanto, um grande gesso está exposto em Londres e um grande bronze no salão da Sociedade Nacional de Belas Artes em Paris, em 1904.
O Pensador, como obra, é muito admirado após a ampliação e empregado com as qualidades de modelo. Em particular, curiosamente, constituindo-se numa admirável peça de sepultura.
A dimensão monumental confere a este, à alegoria, um poderio e potência muito grande, mesmo que a obra, saqueada de todos os acessórios, seja estruturalmente simples; ela contrasta o feito com a produção contemporânea, infinitamente muito descritiva. Nela permite colocar uma época precisa, seu nudismo lhe dá enfim um caráter universal; não é mais Dante.
Depois, em uma viagem a Londres, em 1881, conheceu as interpretações de Dante feitas pelos pintores pré-rafaelistas e por Willian Blake. Rodin alterou os planos originais, com pretensão de fazer do monumento um universo de expressões aformatadas pelas paixões humanas e a morte.
O Pensador é o homem que, sentado sobre a rocha, vê toda a obra e pensa, mudo e meditativo. Todo o seu corpo reflete a atitude do povo trabalhador O Pensador é uma homenagem ao povo, é um símbolo de democracia, marca verdadeiro triunfo definitivo de uma idéia, pois a democracia tem seus heróis e suas estátuas. Nenhum verdadeiro jovem do povo, que está na praça, é imagem ou é beneficiado ou se torna uma lenda ou historia. O Pensador, ao contrário de abrir qualquer precedente à glória de um só, é anônimo, é o desconhecido, o primeiro entre os proletários de onde o artista representou, muito além de suas exigências e manias de sua arte. Ele simboliza a sociedade igualitária, a república integral.
Se o Pensador aparecesse no tímpano da Porta do Inferno como a imagem do Criador meditando sobre sua obra, a um tempo separado de si mesmo, ele se transformaria em um símbolo de esperança e de fé no homem. Sua dimensão é universal, não relegado só à esquerda, mas é uma obra célebre entre todas, que vai do encarregado resignado aos trabalhadores mais humildes, que anula o efeito impactante e deixa de ser importante ou digno de interesse, que é ele mesmo o seu ato de pensar.

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