O MANDILION DE EDESSA



Na História da Arte, a evolução das representações imagéticas e artísticas da face de Cristo está ligada à história do Mandillion de Edessa.
Sobre o rosto de Jesus fica a questão: de onde vem a representação, ora imberbe, apolíneo, adolescente, das catacumbas e sarcófagos do princípio da era cristã em Roma (Emanuel), ora com os cabelos longos, barbado e adulto no Oriente (Pantocrátor, p.ex.)?
Em Roma, nas catacumbas, a preocupação era tão somente com a didática e o símbolo. Não havia a preocupação com a imagem realista do Senhor. Os motivos mitológicos e pagãos são aproveitados e transferidos para o Cristianismo.
Quanto à questão da imagem de Cristo adulto, tem-se que voltar ao ano 28 do início de nossa era, quando Jesus vivia em Jerusalém.
O fato se deu quando o rei Abgar V, de Edessa (hoje cidade de Urfa, no sul da Turquia), que governou do ano 13 ao 50 d.C., estava doente com lepra. Seu secretário, Anan, teria falado com Jesus, pedindo que ele fosse ter com o rei para curá-lo.
Jesus, que estava lavando o rosto, enxuga-o com uma toalha e a entrega com a sua imagem impressa: a Sagrada Face. Jesus teria dito a Anan que ele precisava terminar sua missão, pois que era o tempo da Páscoa, e que mandaria um de seus apóstolos para Edessa posteriormente.
De fato, mais tarde, Judas Tadeu foi pregar o evangelho aos pagãos daquela região.
Essa toalha é a imagem aquiropita de Edessa, ou seja, não feita por mãos humanas. Quando o rei recebeu o Mandilion (toalha), ficou curado e o guardou em local de destaque em seu palácio.
É essa imagem, a do Mandilion de Edessa, que serviu, e ainda hoje o serve, como referência para toda a iconografia da Sagrada Face de Jesus, tanto no Oriente, como no Ocidente cristão.
Há pesquisas sérias quanto a essa toalha, destacando Corrado Pallenberg, especialista em assuntos do Vaticano, que no final da década de 1970, realizou um trabalho amplo de pesquisa sobre esse tema.
Durante escavações no sul da Turquia, feitas por arqueólogos, foi encontrada uma biblioteca do início da Era Cristã e fragmentos da carta de Anan.

“No século XIX, arqueólogos ingleses e franceses descobriram uma biblioteca no sul da Turquia datada dos primeiros anos da Era Cristã. Entre muitos textos, foram encontrados fragmentos de cartas do escrivão LABUBNA relatando viagens de Anan, secretário do rei Abgar V, que reinou do ano 13 ao 50 d.C. na cidade de Edessa, atual Urfa, na Turquia.” (PASTRO, Arte Sacra, p.182)

Tal documento diz:

“Abgar, toparca da cidade de Edessa, a Jesus Cristo, o excelente médico que surgiu em Jerusalém, salve!
Ouvi falar de ti e das curas que realizas sem remédios. Contam efetivamente que fazes os cegos ver, os coxos andar, que purificas os leprosos, expulsas os demônios e os espíritos imundos, curas os oprimidos por longas doenças e ressuscitas os mortos. Tendo ouvido falar de ti tudo isso, veio-me a convicção de duas coisas: ou que és Filho daquele Deus que realiza estas coisas, ou que és o próprio Deus. Por isso escrevi-te pedindo que venhas a mim e me cures da doença que me aflige e venhas morar junto a mim. Com efeito, ouvi dizer que os judeus murmuram contra ti e te querem fazer mal. Minha cidade é muito pequena, é verdade, mas honrada e bastará aos dois para nela vivermos em paz.” (GHARIB, Os Ícones de Cristo, p.43)

No início do século XX foi descoberto que essa imagem se encontrava guardada na Igreja de São Bartolomeu dos Armênios, em Gênova, Itália.
Toda a documentação relativa a ela está na biblioteca Nacional de Paris, no Museu Britânico de Londres e nos Arquivos Imperiais de São Petersburgo.
O Mandilion foi pela primeira vez colocado, por ordem de Abgar, em um nicho da Porta Principal da cidade de Edessa, onde antes havia uma estátua pagã, para que fosse visto e venerado.
No ano 57 d.C., o neto de Abgar, Ma´nu, retoma o paganismo. Então, o bispo da cidade manda emparedar o nicho, ficando assim escondida e protegida a toalha.
Só volta a ser vista em 544 d.C., quando a cidade é saqueada ficando em total pobreza. O então bispo Evlávio, depois de uma revelação, manda quebrar a parede e lá encontra o Mandilion e sua réplica impressa na cerâmica.
O papa Gregório II, quando retoma a luta iconoclasta, faz referência à imagem de Edessa.
Em 944 d.C. o imperador de Bizâncio recebeu o Mandilion do Emir de Edessa.
Em 956 d.C. o Mandilion recebeu uma moldura em ouro e permaneceu em Constantinopla até o ano de 1362 d.C., isso porque, com o término da luta iconoclasta, a Igreja Bizantina passou a procurar todas as imagens de Cristo, principalmente as achiropitas, restando somente a edessana, que ficou na cidade depois de várias cerimônias para sua entronização na Igreja Santa Maria Mãe de Deus.

“Em 944 o Emir de Edessa cede-o ao Imperador de Bizâncio. Entre os anos 944 e 956 retocam ‘bizantinamente’ a obra e acrescentam-lhe a rica moldura em ouro, verdadeira jóia de ourivesaria. O quadro ficou em Constantinopla na Igreja de Santa Maria Mãe de Deus, anexa ao palácio imperial até 1362.” (PASTRO, Arte Sacra, p.183)

Mais ou menos nesta mesma época o genovês Leonardo Montaudo, após uma batalha contra os turcos, conseguiu reconquistar antigas possessões genovesas e salvar ilhas gregas, as quais devolveu ao imperador João V de Bizâncio. Em gratidão, Leonardo recebeu a imagem de Edessa e outras relíquias das mãos do imperador. Quando Leonardo se torna duque de Gênova, faz a doação da Santa Imagem à Igreja de São Bartolomeu dos Armênios.
Em 1507, um mercenário francês rouba a imagem, e esta é levada à Paris e oferecida ao rei Luís XII. Com esse fato, há uma grande rebelião popular e o senado genovês consegue a devolução da obra.
Durante a Segunda Guerra Mundial, de 1940 a 1945, a imagem edessana corre perigo quando o convento onde se encontra abrigada foi bombardeado.
O carbono 14, utilizado em análises, mostra pigmentos dessas diferentes épocas.

Profª Ms. Marilia Torres



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