A ARTE ROMÂNICA

O termo Românico foi empregado pela primeira vez em 1824 pelo arquiteto francês De Caumont, para indicar a arte realizada na Alta Idade Média na Europa, em que os países latinos, como Espanha, França e Itália, se uniram aos países bárbaros, formando assim uma nova linguagem artística e a intenção desta em ligar-se à arte da antiga Roma.
Entre os séculos VII e XIII o termo Românico abrangeu todas as formas de realizações artísticas da Europa Ocidental. Porém, esse espaço de tempo é muito longo para se ter sob a mesma designação todas as manifestações, isto porque, embora com muitas semelhanças, há também várias diferenças nas representações durante essa época.
O período românico se caracteriza por várias “escolas” e maneiras de aplicar seus princípios fundamentais, variando com as condições sócio-políticas e econômicas da época e região.
Além da arte barroca, somente a arte românica está infiltrada em vários países e é tão bela e significativa.

A ARQUITETURA

A arquitetura é o ponto culminante e também a expressão que mais representa o românico.
As realizações arquitetônicas na Europa são numerosas e suas soluções particulares e regionais denotam diferenças, sendo que se pode estabelecer quatro aspectos mais significativos para estudar as características reconhecíveis de seus edifícios.
Em primeiro lugar, o edifício típico românico é a Igreja, assim como o era o templo para a arte grega. Em segundo lugar, a técnica de se construir a cobertura desse edifício em abóbada. Em terceiro lugar, a concepção estética favorável, com efeito de claro-escuro e luz que penetra por aberturas estreitas. Em quarto lugar, a hierarquia entre as artes, sendo a arquitetura a dominante e a escultura, a pintura e o mosaico suas subordinadas.
A construção de edifícios para fins religiosos não é surpresa, pois que a Igreja era quem detinha o conhecimento, técnicas e modernidade; era culta, rica, equipada e onipresente.
Neste edifício o elemento central é a abóbada, em que os mestres construtores utilizavam técnicas para construí-la por meio de arcos de suporte. O arco recebe toda a carga na parte mais alta da superfície curva e a transmite para a sua parte mais baixa. Por causa disso, ele pode ser construído com elementos de pedras justapostas e equilibradas, cada uma delas recebendo uma pressão e transmitindo outra, sucessivamente. Essas pressões da abóbada são descarregadas sobre os pilares ou colunas, que recebem por sua vez pressão lateral que tende a empurrá-los para o exterior. O que determina o sistema é o jogo mútuo de pressões e contra pressões gerado pela abóbada mantendo o edifício em pé.
No período românico foram usados vários tipos de abóbadas. A mais difundida foi a chamada “abóbada de berço”, que se apóia sobre dois pilares, porém a mais típica é a “de aresta”, em que duas abóbadas de berço se cruzam formando dois ângulos retos e um vão quadrado de quatro arcos: dois semi-circulares e dois elípticos.
Ao contrário da abóbada de berço que pode se apoiar nas paredes contínuas e pilares, a abóbada de aresta necessita de apoio de quatro pilares, que podem também servir de apoio a outros tantos vãos adjacentes. Portanto esta é a vantagem da abóbada de aresta, ela pode ser construída para todas as direções.
Outro elemento característico é o pilar em tramo, que é a união da abóbada de aresta com seus suportes. O típico tramo românico é definido a partir de quatro pilares dispostos nos ângulos de um quadrado, ligando-se uns aos outros com arcos semi-circulares, primeiro seguindo os lados do quadrado, depois suas diagonais. A união desses arcos com seus pilares define o espaço e a composição de uma abóbada de aresta.
No início era somente a união das arestas vivas mas, com o tempo, nessas arestas criaram-se nervuras e, quando estas seguiam os pilares até o chão, o próprio pilar que separa quatro tramos toma a forma de uma cruz com um pilar central e quatro saliências. A forma do tramo e a cruzaria das abóbadas é a mais típica expressão da arquitetura românica e tem dupla função: a estrutural e a estética.
A estrutural, que consegue suportar a carga e a pressão exercida pelos arcos descarregando nos pilares da abóbada de cruzaria, que tinha por objetivo cobrir o espaço, permitiu rasgar janelas e outras aberturas nas paredes. Quanto à estética, a repetição destes elementos constitui um organismo que determina a planta do edifício.
Mas não é só o tramo que determina a obra. A repetição da abóbada de cruzaria apoiada em pilares é uma forma estável de construir duas abóbadas em conjunto. No entanto, uma vez que uma tende a derrubar a outra empurrando os pilares para fora, a maneira de anular tal efeito é encostar um tramo ao outro. Todavia, a abóbada, por sua vez, deve apoiar-se em outro pilar ou outra coisa qualquer.
Temos, então, uma obra com pontos fracos com a sucessão de tramos: a fachada, o topo e as laterais. A solução mais simples é a da parte posterior do edifício, construindo-se capelas semi-circulares com abóbadas de meia laranja: as absidíolas. Estas, por sua vez, exercem uma contra-pressão causada pelas abóbadas de cruzaria.
Quanto à fachada, o problema é mais complicado, uma vez que ela deve ter porta de acesso. A solução mais simples encontrada pelos arquitetos românicos foi a de engrossar as paredes a ponto de garantir qualquer inconveniente. Outra, foi a construção de contrafortes; pois quando o tramo principal, ou tramos finais, se apóiam sobre a fachada, não exercem pressão sobre toda a parede, necessitando apenas de pontos que reforcem esses apoios. Pilares de grande espessura são criados nas fachadas, suportando a grande pela pressão exercida sobre eles pelo tramo final.
De acordo com a quantidade de contrafortes construídos em função do número de pilares do interior da igreja, determina-se, indiretamente, a quantidade de divisões internas, isto é, a quantidade de naves.
Quanto às laterais, se a igreja tiver um único vão, isto é, se os tramos se apóiam diretamente nas paredes, simplesmente engrossam-se as paredes ou colocam-se contrafortes em correspondência com os pontos de encontro dos vértices de cruzaria.
Porém, a igreja de nave única é rara e a forma mais típica é aquela que tem três naves ou, mais raramente, cinco, sendo uma central maior e as outras laterais menores, ou seja, a central com tramos maiores e uma ou duas menores de cada lado, apenas cobertas com abóbadas simples. A pressão das abóbadas menores em relação ao interior tenderá a contrabalançar a da abóbada principal em direção ao exterior. O fato das abóbadas serem diferentes, uma vez que as naves laterais são cerca da metade do tamanho da principal, a pressão que se exerce é reduzida. A pressão poderá ser absorvida por uma nave lateral ainda menor ou pelo espessamento das paredes ou com contrafortes construídos nas paredes laterais.
Este sistema é usado em várias igrejas. Suas variantes, que merecem especial referência, são: a lombarda, sendo seu melhor exemplo é a Igreja de Santo Ambrósio, em Milão; e a normanda, que se desenvolveu na Normandia, mas sua maior expressão encontra-se na Inglaterra
A Igreja de Santo Ambrósio tem um organismo construtivo completamente românico e o mais arcaico, por causa da espessura das paredes e falta de luminosidade causadas pela existência de janelas, embora grandes, somente na parede da fachada frontal, sem envasaduras laterais. As paredes laterais tinham que ser mais espessas para sustentar a pressão exercida pela abóbada da nave central em relação às naves laterais sustentadas por tramos e pilares das naves menores, também cobertas com abóbadas de cruzaria. Sobre essas colaterais repete-se a manobra, a parte alta dos tramos maiores é ladeada por uma outra nave menor construída sobre a primeira com o mesmo critério: a tribuna, em italiano ‘matroneo’, palavra que advém de antiga tradição na qual a tribuna era lugar reservado para as mulheres que freqüentavam a igreja. Outra característica é que cada tramo principal corresponde a dois tramos secundários, dado que entre pilares principais é preciso, forçosamente, se inserir um segundo pilar. Este pilar é menor, uma vez que suporta pequenas abóbadas de cruzaria. Observa-se, do interior da igreja, tal construção ritmada de pilar grande, pilar pequeno, grande, pequeno,etc. Não se trata de defeito e sim de solução adequada àquele tempo em que amavam construções ritmadamente organizadas.
O projeto do sistema normando é muito semelhante. Em lugar da tribuna, colocam-se, nos pilares dos tramos, enormes contrafortes que, por liberar a parte alta da construção, permite acrescentar o clerestório, elemento típico do românico, que na prática é um plano vertical, rasgado por janelões, entre a abóbada principal e as colaterais. Outra invenção é a abóbada de cruzaria que é dividida em seis secções, apresentando uma nervura transversal às duas diagonais. Esta nova nervura se prolonga até o chão, como as outras, converge sobre o pilar intermediário e transforma-o em pilar composto (polistilo), dando um ritmo acentuada à nave. Aí se encontra aberto o caminho para um novo estilo: o gótico.
É este o organismo típico da igreja românica, em que séries de formas e funções correlacionadas criam um verdadeiro estilo, mas que não se apresenta sozinho, acrescentando-se a ele uma série de elementos decorativos.
O elemento decorativo principal, além de funcional, é o arco; quase sempre de volta perfeita, semicircular, acompanhado de moldura e com a parte inferior decorada com alternância de pedras claras e escuras ou mesmo tijolos de barro. Surge assim a bicromia.
Outro motivo decorativo e funcional é a rosácea, que permite a entrada de luz. É uma abertura redonda na parede da fachada principal, coberta por vitrais que a ornamentam. Às vezes também aparece em paredes laterais. As rosáceas, em sua maioria, são a fonte principal de iluminação natural. Era comum, na época, a confecção de janelas que correspondessem ao mesmo tempo às exigências de luminosidade, de segurança, de estética, com iluminação discreta, difusa, com abertura mínima. Surgiu a janela de voamento, que consiste em uma fresta estreita rasgada a meio de uma parede e que vai se alargando progressivamente para o interior, efeito denominado voamento simples. Quando este voamento se dá nos dois sentidos, interior e exterior, denomina-se voamento duplo. Este efeito era típico na feitura das janelas. Quanto às portas, surge, principalmente na França, o mainel (parte-luz), ou seja, um pilar esculpido que divide o vão do portal.
A todos os elementos acrescentam-se as arcarias cegas, que nada mais são do que uma fachada de pequenos arcos sob o telhado ou como moldura para separar partes da obra. Tem-se também o pórtico como um átrio que precede os portais, em que o arco de entrada está apoiado em duas colunas assentadas em esculturas de animais deitados (como leões).
A isso tudo, somam-se também, as variações das instalações em si mesmas, com adequações diversas conforme as diferentes regiões em que o românico se desenvolveu. De estilo variadíssimo, demonstram as manifestações locais com várias diferenças mais ou menos importantes, criando assim subestilos regionais.
A França, exposta a diversas influências, é o estilo mais rico em soluções e aspectos locais. Na parte central, a Normandia, cria a fachada de torre dupla, uma de cada lado do corpo da construção. Este conceito foi levado mais tarde pelos conquistadores normandos à Inglaterra, onde se tornou estilo típico.
Mais ao sul, renuncia-se à abóbada de cruzaria para se adotar a abóbada de berço, ou cobertura bizantina, a chamada cúpula, em que as abóbadas de cruzaria são substituídas por várias cúpulas.
Na França surgiram várias construções com soluções complicadas, principalmente no caminho de peregrinação a Santiago de Compostela, em que se construíram igrejas com várias absides, ou absidíolas, em forma de semi-círculo em torno do altar-mor: as chamadas igrejas de capelas radiantes, dispostas ao longo de uma semicircunferência.
A máxima dificuldade e complexidade nas construções, entretanto, cabe à Alemanha. Era comum construir igrejas com cabeceiras amplas e complexas, o que também se repetia em cada lado do transepto. É típico do alemão as variadas formas de torres, quer circulares, quadradas ou octogonais, tanto na fachada como na cabeceira da construção.
A Alemanha reúne em um só corpo compositivo todos os elementos de culto. A Itália, ao contrário, separa-os. É típico da Itália a construção ser dividida: a igreja, propriamente dita, o batistério, de planta central, ao lado ou em frente ao templo e o campanário, geralmente ao lado na fachada externa da igreja.
Quanto ao corpo da igreja, prevalecem as formas simples de fachada triangular com telhado de duas águas, com as duas partes laterais muito mais baixas que a central. Diferenças decorativas são notáveis, conforme a região do país, como filas de arcaturas sobrepostas nas fachadas, em Pisa e em Lucca, incrustrações de mármores coloridos nas construções florentinas e decorações islâmicas combinados com alvenaria românica na Sicília.
Outras soluções não menos interessantes foram encontradas na Inglaterra, sob a influência normanda, mas criando uma versão original pela imponência do edifício. Foi na Inglaterra que surgiram as primeiras abóbadas de nervuras e a criação da capela da Virgem, dedicada ao culto de Maria, quase uma outra pequena igreja independente junto ao corpo da igreja principal. É na Inglaterra que o transepto tende a duplicar de tamanho e este traçado tornar-se-á padrão na época seguinte.
Três outros elementos surgem em todas as regiões, não podendo ser atribuídos a qualquer escola local, mas muitíssimo freqüentes. O primeiro é a ocorrência de pilares em alternância, grandes e pequenos. O segundo é a presença da cripta, que é uma pequena igreja com abóbada de cruzaria na parte subterrânea, para a guarda de relíquias de santos e tesouros. Em terceiro, a existência de igrejas redondas dedicadas ao Salvador e talvez construídas seguindo o modelo da Igreja da Paixão em Jerusalém, que constitui uma versão especial do estilo românico.
Além de igrejas, embora em número menor, existem castelos e alguns palácios nesse estilo. Porém a definição de românico não se aplica muito bem a eles, uma vez que essas construções não têm, sobretudo, o cunho religioso.

A ESCULTURA

A arte na Idade Média e suas representações, não eram consideradas expressões independentes. O edifício românico era pensado em três partes: arquitetônica, escultórica e pinturesca.
Nas construções, a escultura está reservada para alguns núcleos funcionais: as portadas de acesso, os ambões, capitéis, cornijas e suporte de portas.
O portal pode ser único pela nave central, ou mais de um dando acesso às colaterais e ao transepto. O vão central pode ou não ser dividido por uma coluna esculpida. A parte superior do portal é decorada por um tímpano esculpido com vários motivos. O portal é cortado em voamento.
O tímpano interno é esculpido com a figura de Cristo entronizado (Majestas Domini). A parte inferior, com figuras de lutas de animais (bem–mal), motivos geométricos ou personagens estilizadas. O que interessa é o fato e não o indivíduo.
O capitel é quase sempre esculpido com cenas bíblicas, figuras de artesãos, cotidiano, monstros, ou mesmo figuras alegóricas e inventadas.
Esculpe-se em baixo e em alto relevo os capitéis, as galerias de circulação e a arquitrave.
As portas nem sempre são decoradas, pois que eram de bronze e a técnica não estava tão difundida igualmente em todas as regiões. Mas, quando aparece, usa-se temas religiosos e moldurados por motivos geométricos e cabeças de leão.
Os escultores faziam também o registo, que é uma faixa horizontal comprida, não muito alta, separada do resto da superfície por uma moldura de perfil decorado que servia para dar seqüência ao relato das imagens.
A função dessa decoração era doutrinar as pessoas analfabetas nos ensinamentos do Evangelho (Biblia Pauperum).
Como características gerais, não havia relação do personagem com a realidade, daí as deformações, as transposições simbólicas e a mistura do aspecto real e fantástico. As figuras são postas lado a lado sem qualquer relação, numa tentativa de criar um espaço tridimensional. Nos tímpanos e capitéis aglomeram composições cheias de ritmo, simbólicas ou expressivas, mas não realistas.
A escultura românica não se limita às grandes obras, mas também se aplica a pequenas peças de ourivesaria, frontais de altares, relicários e crucifixos.

A PINTURA

Muito se perdeu do que se refere à pintura românica. No entanto, o que chegou até nós em representações, desde de painéis, murais, frescos e ilustrações em livros, é o que melhor havia.
Os temas são quase sempre iguais e comuns à escultura da época, respeitando a religiosidade, evangelização e promulgação da fé através de cenas bíblicas do Antigo e Novo Testamento, vida de santos, ilustrações de atividade do cotidiano, acontecimentos lendários ou glórias passadas.
Os meios expressivos da pintura, tal como toda a arte do período, se preocupa mais com o efeito do que com a elegância, mais em relatar o feito do que em decorar. Usa cores vivas, figuras desajeitadas, mas de grande expressividade. Os pintores não se preocupavam em pintar de maneira realista o fundo onde se moviam as personagens. Não se preocupavam com a perspectiva. O ambiente citadino ou mesmo natural era representado por símbolos. Uma planta podia representar o Jardim do Éden, por exemplo. Também não se preocupavam com a manifesta irrealidade daquilo que desenhavam. Ao contrário, além de deformar a figura, davam mais expressividade aos gestos para tornar evidente, através do exagero, as situações desejadas.
Um dos elementos característicos das pinturas românicas era a composição estilizada com figuras dispostas sempre da mesma maneira, em seqüência horizontal, ou simetricamente dispostas em torno de um ponto de interesse geral. A composição da pintura gira em torno de um núcleo de linhas, de massas ou cores que constituem um esquema. Esse esquema é representado em vários casos com figuras geométricas como triângulos, quadrados ou círculos. As linhas ou curvas da construção de uma obra são quase sempre organizadas em conjuntos de formas geométricas. As cores são vivas ou suavizadas por uma gama de tons.
As pinturas nas igrejas chegaram até nós nas suas paredes principais e absides. O tema sempre é o Cristo Vencedor, entronizado, o Cristo Pantocrátor. À sua volta, multidões de santos, anjos, pessoas e potestades infernais. Nas paredes da nave, procissões de santos ou passagens bíblicas, dominadas por grandes figuras ou mesmo de imagens menores compondo registos sobrepostos. Na Itália, país influenciado pelo mundo bizantino, as pinturas são freqüentemente substituídas por mosaicos de fundo dourado de origem oriental.
As miniaturas fazem parte da pintura românica de tal forma que os esquemas e influências de uma atividade refletem na outra. A ilustração de livros é freqüentemente usada para evidenciar e ornar um episódio. A decoração das letras iniciais dos capítulos ou dos parágrafos é uma característica desta arte de grande fantasia, vivacidade e colorido, de habilidade de condensação em um espaço exíguo e destreza de execução.
O românico demonstra assim um coerente valor expressivo em todos os campos.

2 comentários:

Anônimo disse...

muito interessante essa rica explicação, muito obrigado ela foi extremamente instrutiva e nessecaria para meu enriquecimento mental e cultural
bjos emilio
contato: emilinho.ba@hotmail.com

Anônimo disse...

MUITO BOM MESMO

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